sábado, 13 de janeiro de 2007

Carlos Drummond de Andrade












Um poeta de alma e ofício. Assim era Carlos Drummond de Andrade, mineiro nascido no ano de 1902 em Itabira ("Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro" - confessou em "Confidência do Itabirano").

Diz Carlos Drummond de Andrade:

Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de consciência com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação.Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos.


INFÂNCIA
A Abgar Renault

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada, cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé.
Comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
-Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

De A FAMÍLIA QUE ME DEI

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