quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Luís Vaz de Camões













© Isaac Pereira
Túmulo de Luís Vaz de Camões no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa

POIS MEUS OLHOS NÃO CANSAM DE CHORAR

Pois meus olhos não cansam de chorar
tristezas, que não cansam de cansar-me;
pois não abranda o fogo em que abrasar-me
pôde quem eu jamais pude abrandar;

não canse o cego Amor de me guiar
a parte donde não saiba tornar-me;
nem deixe o mundo todo de escutar-me,
enquanto me a voz fraca não deixar.

E se nos montes, rios, ou em vales,
piedade mora, ou dentro mora Amor
em feras, aves, prantas, pedras, águas,

ouçam a longa história de meus males
e curem sua dor com minha dor;
que grandes mágoas podem curar mágoas.

© Luís Vaz de Camões, 1595
De: Rimas
Editora: Almedina, Coimbra, 1994

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