quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
Chenjerai Hove
Zimbabwe, 9 de Fevereiro, 1956. Outros dados biográficos
ESPOSA DE GUERRA E DE GARRA
Esta guerra!
Estou cansada
de um marido que nunca dorme
a guardar a casa sempre a ser chamado,
nunca dorme!
Talvez diga para si
“estou cansado de uma mulher
que nunca morre
para eu poder deixar de estar em guarda”.
© 1982, Chenjerai Hove
In Up In Arms
Edição: Zimbabwe Publishing House, Harare, 1982
Trad.: Isaac Pereira
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
Joseph Brodsky
Joseph Brodsky. Poeta russo, natural de Leninegrado, actual S. Petersburgo a 24 de Maio de 1940. Faleceu em Nova Iorque, a 28 de Janeiro de 1996. Prémio Nobel da Literatura em 1987. Escreveu em língua russo e, mais tarde, em língua inglesa. Em 1964 foi condenado a cinco anos de trabalhos forçados pelo estado soviético. Exilou-se nos EUA, naturalizou-se cidadão americano em 1977.
PARA A MINHA FILHA
Dai-me outra vida e estarei no Caffè Rafaella
a cantar. Ou estarei sentado a uma mesa,
simplesmente. Ou de pé, como um móvel no corredor,
caso essa vida seja menos generosa que a anterior.
Contudo, em parte porque nenhum século daqui em diante
conseguirá passar sem jazz nem cafeína, aguentarei esse desplante,
e pelas minhas rachas e poros, verniz e todo de pó coberto,
observarei, daqui a vinte anos, como a tua flor se terá aberto.
De um modo geral, lembra-te de que estou por ali. Ou melhor, que
um objecto inanimado pode ser o teu pai, sobretudo se
os objectos forem mais velhos do que tu, ou maiores. Não
os percas de vista, pois, sem dúvida, te julgarão.
Seja como for, ama essas coisas, haja ou não encontro.
Além disso, pode ser que ainda te lembres duma silhueta, dum contorno,
ao passo que eu até isso perderei, juntamente com a restante bagagem.
Daí estes versos, algo toscos, na nossa comum linguagem.
Joseph Brodsky
in So Forth (1984)
Antologia: Paisagem com Inundação, edição bilingue, Cotovia, Lisboa, 2001
Trad.: Carlos Leite
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Buland Al-Haydari
Uma pequena partícula de um grão de areia no imenso respeito que o cidadão livre deve ao grande povo do Iraque:
Buland Al-Haydari. Iraque (1926-1996)
O CARTEIRO
Que queres tu carteiro?
estou longe do mundo
sem dúvida estás equivocado...
já que nada de novo há
que o mundo possa trazer a este fugitivo.
O que era
é ainda o que é costume.
Sonhar
ou enterrar
ou evocar
enquanto a gente tem ainda seus festejos
e seus funerais juntando festa com festa
seus olhos desenterrados em suas mentes
outro osso para uma nova fome.
A China ainda tem a sua muralha
um mito apagado e um destino em repetição
a Terra tem ainda tem o seu Sísifo
e uma pedra que não sabe o que quer.
Carteiro
sem dúvida estás equivocado...
já que nada é novidade
volta à estrada
já que a estrada tanta vezes te trouxe.
E que queremos nós?
Trad.: Adalberto Alves
Buland Al-Haydari. Iraque (1926-1996)
O CARTEIRO
Que queres tu carteiro?
estou longe do mundo
sem dúvida estás equivocado...
já que nada de novo há
que o mundo possa trazer a este fugitivo.
O que era
é ainda o que é costume.
Sonhar
ou enterrar
ou evocar
enquanto a gente tem ainda seus festejos
e seus funerais juntando festa com festa
seus olhos desenterrados em suas mentes
outro osso para uma nova fome.
A China ainda tem a sua muralha
um mito apagado e um destino em repetição
a Terra tem ainda tem o seu Sísifo
e uma pedra que não sabe o que quer.
Carteiro
sem dúvida estás equivocado...
já que nada é novidade
volta à estrada
já que a estrada tanta vezes te trouxe.
E que queremos nós?
Trad.: Adalberto Alves
domingo, 25 de fevereiro de 2007
César Vallejo
Um Poeta do Peru. Um Poeta do Mundo.
César Abraham Vallejo Mendoza
Santiago de Chuco, uma aldeia dos Andes em 16 de Março de 1892
Paris, 15 de Abril de 1938
PEDRA NEGRA SOBRE PEDRA BRANCA
Morrerei em Paris num dia de chuva,
um dia do qual já me recordo.
Morrerei em Paris - e não me incomoda -
talvez numa quinta-feira, como hoje, de Outono.
Quinta-feira será, porque hoje, quinta-feira, dia em que escrevo
estes versos, já coloquei os meus ombros
na mala e, nunca como hoje, me voltei,
em todo o meu caminho, a ver-me só.
César Vallejo morreu, todos pegavam nele
sem que ele lhes faça nada;
batiam-lhe forte com um pau duro
e também com uma corda; são testemunhas
os dias de quinta-feira, os ossos dos ombros,
a solidão, a chuva, os caminhos...
César Vallejo
Trad.: Isaac Pereira
sábado, 24 de fevereiro de 2007
Stanley Kunitz
Stanley Kunitz. Poeta americano, Worcester, Massachusetts
29 de Julho, 1905 – 14 de Maio, 2006
UMA VELHA E DESAFINADA CANÇÃO
Chamo-me Solomon Levi,
o deserto é a minha casa,
o peito da minha mãe picava,
e não tive pai.
As areias murmuravam, Separem-se,
e as pedras ensinaram-me, Sê duro.
Danço,pela alegria de sobreviver,
na berma da estrada.
Stanley Kunitz
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
José Afonso
Aveiro, 2 de Agosto, 1929 - Setúbal,23 de Fevereiro, 1987
QUE AMOR NÃO ME ENGANA
Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia?
E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais de ouve o seu grito
Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia
José Afonso
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Nicanor Parra
Poeta chileno.Nicanor Parra: O "antipoeta"
San Fabián de Alico, 5 de Setembro 1914
OS VICIOS DO MUNDO MODERNO
Os delinquentes modernos
Estão autorizados a deslocar-se diariamente
a parques e jardins.
Dotados de poderosos binóculos e de relógios de bolso
Entram a saque nos quiosques favorecidos pela morte
E instalam os seus laboratórios nos roseirais em flor.
Dali controlam os fotógrafos e os mendigos que deambulam pelas redondezas
Procurando erigir um pequeno templo à miséria
E se têm oportunidade chegam a possuir um engraxador melancólico.
A policia atemorizada foge destes monstros
Em direcção ao centro da cidade
De onde deflagram os grandes incêndios de fim de ano
E um valente encapuzado coloca as mãos para cima a duas freiras da caridade.
Os vícios do mundo moderno:
O automóvel e o cinema,
As discriminações raciais,
O exterminio dos índios,
Os truques da alta finança,
A catástrofe dos velhos,
O comércio clandestino de brancas realizado por sodomitas internacionais,
A auto-promoção e a gula
As Pompas Fúnebres
Os amigos pessoais de sua excelência
A elevação do folclore a categoria do espírito,
O abuso dos estupefacientes e da filosofia,
A suavização dos homens favorecidos pela fortuna
O auto-erotismo e a crueldade sexual
A elevação do onírico e do subconsciente em detrimento do senso comum.
A confiança exagerada em sonhos e vacinas,
O endeusamento do falo,
A política internacional de pernas abertas patrocinada pela imprensa reacionária,
A ânsia desmedida de poder e de lucro,
A carreira do ouro,
A fatídica dança dos dólares,
A especulação e o aborto,
A destruição dos ídolos.
O desenvolvimentos excessivo da dietética da psicología pedagógica,
O vício da dança, do cigarro, dos jogos de azar,
As gotas de sangue que costumam encontrar-se entre os lençóis dos recém-casados,
A loucura do mar,
A agorafobia e a claustrofobia,
A desintegração do átomo,
O humor sangrento da teoria da relatividade,
O delírio de voltar ao ventre materno,
O culto do exótico,
Os acidentes aéreos,
As incinerações,as lutas em massa, a retenção dos passaportes,
Tudo isto porque sim,
Porque produz vertigem,
A interpretação dos sonhos,
E a difusão da radiomania.
Como fica demonstrado, o mundo moderno é composto por flores artificiais
Que se cultivam nuns vasos parecidos com a morte,
É formado por estrelas de cinema,
E de sangrentos boxistas que combatem à luz da lua,
Compõe-se de homens-rouxinol que controlam a vida económica dos países,
Por meio de alguns mecanismos fáceis de explicar,
Geralmente vestem de negro como os precursores do outono
E alimentam-se de raízes e de ervas silvestres.
Entretanto os sábios, comidos pelas ratazanas,
Apodrecem nos sótãos das catedrais,
E as almas nobres são perseguidas implacavelmente pela policia
O mundo moderno é uma grande cloaca,
Os restaurantes de luxo estão apinhados de cadáveres digestivos
E de pássaros que voam perigosamente baixo.
E não é tudo: Os hospitais estão cheios de impostores,
Sem referir os herdeiros do espírito que estabelecem as suas colónias
no ânus dos recém-operados.
Às vezes os industriais modernos sofrem o efeito da atmosfera envenenada,
Junto ás máquinas de tecer costumam ficar doentes por causa da terrível doença do sonho,
Que por vezes os transforma numa espécie de anjos.
Negam a existência do mundo físico,
E vangloriam-se de ser uns pobres filhos do sepulcro.
Contudo o mundo sempre foi assim.
A verdade, como a beleza, não se cria nem se perde.
E a poesia reside nas coisas ou é simplesmente uma miragem do espírito.
Reconheço que um terramoto bem concebido
Pode acabar em alguns segundos coom uma cidade rica em tradições
E que um minucioso bombardeamneto aéreo
Derruba árvores, cavalos, tronos, música.
Mas que interessa tudo isto
Se enquanto a maior bailarina do mundo
Morre pobre e abandonada numa pequena aldeia do sul de França
A primavera devolve ao homem uma grande parte das flores desaparecidas.
Tratemos de ser felizes, recomendo, chupando a miserável costela humana.
Extraiamos dela o líquido renovador,
Cada um de acordo com as suas inclinacões pessoais.
Agarremo-nos a esta lástima divina!
Pintores e estremecidos
Chupemos estes lábios que nos enlouquecem;
A sorte foi encontrada.
Respiremos este perfume enervador e destruidor
E vivamos um dia mais a vida dos eleitos:
Das suas axilas extrai o homem a cera necessária
para forjar o rosto dos seus ídolos.
E do sexo da mulher a palha e o barro dos seus templos.
Por tudo isto
Crio um piolho na minha gravata
E sorrio aos imbecis que descem das árvores.
Nicanor Parra
De Poemas e antipoemas (Santiago, Nascimento,1954)
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
Vinicius de Moraes
MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz
Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz
Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
Salvatore Quasimodo
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
Jacques Prévert
© Robert Doisneau
Jacques Prévert, Paris 1955
BAIRRO LIVRE
Pus o boné na gaiola
saí com o pássaro na cabeça
E então
já não se faz a continência
perguntou o comandante
Não
já não se faz a continência
respondeu o pássaro
Ah bem
desculpe julguei que se fazia
disse o comandante
Não há de quê toda a gente pode enganar-se
disse o pássaro.
Jacques Prévert,poeta francês
do Livro Paroles
Trad.: Jorge de Sena
domingo, 18 de fevereiro de 2007
Bai Juyi
Início da Primavera
A neve derrete, dias cada vez mais quentes,
o gelo desaparece, raios de sol inundam a terra,
pouco a pouco os rebentos ganham força.
A Primavera só não desfaz a geada branca em meus cabelos.
Bai Juyi (China. 772-846)
Trad.: António Graça de Abreu
A neve derrete, dias cada vez mais quentes,
o gelo desaparece, raios de sol inundam a terra,
pouco a pouco os rebentos ganham força.
A Primavera só não desfaz a geada branca em meus cabelos.
Bai Juyi (China. 772-846)
Trad.: António Graça de Abreu
Primavera
© Isaac Pereira. Macau 2006.Tou Fa. Kam Kat.
Tan Fong Lou
No caminho que ilumina o vento - Tan Fong Lou - eu carreguei uma árvore.
Chovia. O vento soprava.
Antes da noite chegar, viria a Primavera.
Eu sabia.
Ao frio, carregava uma árvore, no caminho que ilumina o vento.
Isaac Pereira
Seis Haikus
I
A chuva é fria.
Ao cume da montanha
chega a Primavera.
II
Noite gelada.
Rebentam os foguetes
nas águas do rio.
III
À porta de casa
para entrar a fortuna:
- tangerineiras.
IV
Uma lua nova.
Incenso e foguetes,
brincam as crianças.
V
Flores de Tou Fa:
- Uma árvore de Primavera
em nossa casa.
VI
Desceu o dia.
No silêncio do vento
um pássaro voa.
Koi Hui Sio
Macau, 2004
sábado, 17 de fevereiro de 2007
Da Juventude - Passagem das nuvens
© Isaac Pereira. South China Sea. 2001
Da Juventude - Passagem das nuvens
Praias, cafés, apartamentos,
lugares onde, pela última vez, tocaram a pele.
Um dia, com a mala por abrir,
um dos amantes regressará às ruínas da cidade,
e se não regressar,
num outro porto de abrigo,
sempre que uma viagem termine,
lembrará o vento breve de verão,
a janela do quarto azul,
onde, como na tela transparente dos olhares,
havia lágrimas e alguns sorrisos.
Isaac Pereira
01.1999
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
Inger Christensen
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
Bertolt Brecht
Bertolt Brecht - Eugen Berthold Friedrich Brecht
10 DE Fevereiro, 1898 – 14 de Agosto, 1956
Foi um influente socialista alemão, dramaturgo e poeta do século XX.
RÁDIO POEMA
Caixa pequenina, seguro-te para escapar
Que as tuas válvulas não quebrem
Levada de casa em casa, para o barco, do mar para o comboio,
Que os meus inimigos possam continuar a falar comigo,
Perto da minha cama, para minha dor,
A última coisa à noite, a primeira coisa de manhã,
Das suas vitórias e dos meus anseios,
Promete-me que não te calas de repente.
Bertolt Brecht
Trad.:Isaac Pereira
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
Les Murray
Leslie Allan Murray.
17 de Outubro de 1938.
Poeta australiano.
Página pessoal de Les Murray
O SIGNIFICADO DA EXISTÊNCIA
Tudo, excepto a linguagem,
conhece o significado da existência.
Árvores, planetas, rios, tempo
nada mais sabem. Dizem-no
instante após instante como o universo.
Até este corpo idiota
em parte vive com ele, e nele quer
ter total dignidade
só por causa da inteira e ignorante liberdade
do meu pensamento falante.
Les Murray
Poems the Size of Photographs, 2002
Trad.: Isaac Pereira
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
Petrónio
Um outro clássico.
Petrónio ou Petronius, autor de Satíricon, foi um escritor romano. Pensa-se que Petrónio é Gaius Petronius Arbiter ou Titus Petronius (c.27-66 D.C.), um assíduo da corte do imperador Nero.
COMÉDIA HUMANA
Dura, enquanto convém, o nome da amizade;
no tabuleiro a pedra anda em vários sentidos...
Se a sorte se mantém, que perto estais, amigos!
Mas, assim que ela cai, bateis em retirada.
A trupe desempenha, sobre o palco, uma farsa:
este, o pai; esse, o filho; aquele, um homem rico...
Mal se diz o papel e se termina o riso,
a máscara lá vai...E reaparece a face.
Petrónio. Séc. I. Satyricon, 80
Tradução: David Mourão-Ferreira
Satyricon conta as aventuras, em prosa e em verso, de três jovens e de um velho poeta. Trata-se do primeiro de novela picaresca na literatura europeia. Contém descrições da vida no século I d.C. Língua original: Latim.
Petrónio ou Petronius, autor de Satíricon, foi um escritor romano. Pensa-se que Petrónio é Gaius Petronius Arbiter ou Titus Petronius (c.27-66 D.C.), um assíduo da corte do imperador Nero.
COMÉDIA HUMANA
Dura, enquanto convém, o nome da amizade;
no tabuleiro a pedra anda em vários sentidos...
Se a sorte se mantém, que perto estais, amigos!
Mas, assim que ela cai, bateis em retirada.
A trupe desempenha, sobre o palco, uma farsa:
este, o pai; esse, o filho; aquele, um homem rico...
Mal se diz o papel e se termina o riso,
a máscara lá vai...E reaparece a face.
Petrónio. Séc. I. Satyricon, 80
Tradução: David Mourão-Ferreira
Satyricon conta as aventuras, em prosa e em verso, de três jovens e de um velho poeta. Trata-se do primeiro de novela picaresca na literatura europeia. Contém descrições da vida no século I d.C. Língua original: Latim.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
José Agostinho Baptista
© Isaac Pereira. Trás-os-montes. Portugal.
Página de José Agostinho Baptista
CREPÚSCULO
Queima tudo, inceideia-me mais.
Beija os vastos desertos da minha combustão.
Não digas nada.
Ao crepúsculo, conduz-me ao redil,
faz soar os guizos, canta junto ao moinho de
vento.
José Agostinho Baptista
Do livro "Quatro luas", 2006.
Assírio & Alvim
domingo, 11 de fevereiro de 2007
Juan Ramón Jimenez
Poeta espanhol,Prémio Nobel da Literatura em 1956
Moguer, Huelva, sul da Andaluzia. 23.12.1881
Santurce, Porto Rico, 29.12.1958
CANÇÃO DE INVERNO
Cantam. Cantam.
Onde cantam os pássaros que cantam?
Choveu. Ainda os ramos
estão sem folhas novas. Cantam. Cantam
os pássaros. Onde cantam
os pássaros que cantam?
Não tenho pássaros presos.
Não há meninos que os vendam. Cantam.
O vale fica distante.Nada...
Eu não sei onde cantam
os pássaros - cantam, cantam -,
os pássaros que cantam.
Juan Ramón Jimenez
Trad.: José Bento
sábado, 10 de fevereiro de 2007
Langston Hughes
Langston Hughes, Chicago. 1941
© Gordon Parks
Langston Hughes, poeta americano.
1 de Fevereiro, 1902 – 22 de Maio, 1967
POEMA
Para o retrato de um rapaz africano no estilo de Gauguin
Todos os tam-tans da selva pulsam no meu sangue,
E todas as luas quentes e selvagens brilham na minha alma.
Tenho medo desta civilização -
Tão dura,
Tão forte,
Tão fria.
Langston Hughes, 1965
Translated: IP
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
Ingeborg Bachmann
25 de Junho de 1926, Klagenfurt, Austria - 17 de Outubro, 1973 Roma, Itália
Escritora, poeta e ensaísta austríaca. A obra de Ingeborg Bachmann cruza-se com Paul Celan ou Walter Benjamin. A linguagem poética como possibilidade de iluminação, contra os horrores do mundo.
Foi membro do Gruppe 47 - Grupo 47 do pós-guerra - do qual fizeram parte, entre outros, Paul Celan e Gunter Grass. Existe um Prémio Instituído com o seu nome: o prestigiado Ingeborg Bachmann Prize, concedido anualmente em Klagenfurt.
SOMBRAS ROSAS SOMBRAS
Sob um céu estranho
sombras rosas
sombras
numa terra estranha
entre rosas e sombras
numa água estranha
a minha sombra
Ingeborg Bachmann, Invocação da Ursa Maior
Trad.: João Barrento
Editora: Assírio & Alvim
Sob um céu estranho
sombras rosas
sombras
numa terra estranha
entre rosas e sombras
numa água estranha
a minha sombra
Ingeborg Bachmann, Invocação da Ursa Maior
Trad.: João Barrento
Editora: Assírio & Alvim
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
Nima Yoshij
Nima Yoshij, O Pai da Moderna Poesia Persa.
(Fotografia: Hadi Shafaieh)
É NOITE
Uma noite de escuridão profunda.
No ramo da velha figueira
uma rã coacha sem cessar
predizendo uma tempestade, um dilúvio
e eu afogo-me no medo.
É noite.
E com a noite o mundo parece
um cadáver na sepultura;
E no medo digo para mim:
"E se chover torrencialmente em todo o lado?"
"E se a chuva não parar
até que a terra se afunde na água,
como um pequeno barco?"
Nesta noite de terrível escuridão
Quem pode dizer o que seremos
quando a alvorada chegar?
Irá a luz da manhã fazer
com que a irritada face da tempestade
desapareça?
Nima Yoshij (1896-1960), Irão
Trad: Isaac Pereira
Informação mais detalhada sobre a Vida e Obra de Nima Yoshij:
http://www.iranchamber.com/literature/nyoshij/nima_yoshij.php
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
Homero Aridjis
Hoje, outro poeta latino-americano, mas com descendência grega.
HÁ SERES...
Há seres que são mais imagem que matéria
mais olhar do que corpo
tão imateriais os amamos
que quase não queremos tocá-los com palavras
desde a infância os buscamos
mais no sonho que na carne
e sempre no limiar dos lábios
a luz da manhã parece dizê-los
Homero Aridjis (Contepec, Michoacán, México,1940)
Trad.: José Bento
HÁ SERES...
Há seres que são mais imagem que matéria
mais olhar do que corpo
tão imateriais os amamos
que quase não queremos tocá-los com palavras
desde a infância os buscamos
mais no sonho que na carne
e sempre no limiar dos lábios
a luz da manhã parece dizê-los
Homero Aridjis (Contepec, Michoacán, México,1940)
Trad.: José Bento
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes, 1960.
Ao segundo mês deste diário de registos e de outras aventuras poéticas, ouso partilhar um outro Poeta Maior. Depois de Carlos Drummond de Andrade, um Poeta, também do Brasil e do Mundo: Vinicius de Moraes.
Para outras observações, ver a ligação "Poesia e Música", ao sítio oficial de Vinicius de Moraes.
POÉTICA
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro,1913-1980.
Nova York, 1950
POÉTICA
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro,1913-1980.
Nova York, 1950
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
Diálogo
domingo, 4 de fevereiro de 2007
Um homem...
sábado, 3 de fevereiro de 2007
Sylvia Plath
EU QUERO, EU QUERO
De boca aberta, o deus recém-nascido
imenso, calvo, embora com cabeça de criança,
gritou pela teta da mãe.
Os vulcões secos estalaram e cuspiram,
a areia esfolou o lábio sem leite.
Gritou então pelo sangue paterno
que agitou a vesta, o tubarão e o lobo
e veio engendrar o bico do ganso.
De olhos secos, o inveterado patriarca
ergueu seus homens de pele e osso:
farpas sobre a coroa de fio dourado,
espinhos nas hastes sangrentas da rosa.
Sylvia Plath, E.U.A. (1932-1963)
Trad.: Maria de Lourdes Guimarães
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
Eugène Guillevic
Poeta francês, natural da Bretanha - Carnac, Morbihan, 5 de Agosto de 1907. Um dos poetas maiores da segunda metade do século XX. Guillevic foi recebeu o Grande Prémio de Poesia da Academia Francesa em 1976 e o Grande Prémio Nacional de Poesia em 1984. Faleceu em Paris em Maio de 1997.
E PARTIMOS
E partimos,
Baptizando o futuro
Com as últimas lágrimas.
De: Eugène Guillevic, Sphère(1963)
Trad.: David Mourão Ferreira
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
Luís Vaz de Camões
© Isaac Pereira
Túmulo de Luís Vaz de Camões no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa
POIS MEUS OLHOS NÃO CANSAM DE CHORAR
Pois meus olhos não cansam de chorar
tristezas, que não cansam de cansar-me;
pois não abranda o fogo em que abrasar-me
pôde quem eu jamais pude abrandar;
não canse o cego Amor de me guiar
a parte donde não saiba tornar-me;
nem deixe o mundo todo de escutar-me,
enquanto me a voz fraca não deixar.
E se nos montes, rios, ou em vales,
piedade mora, ou dentro mora Amor
em feras, aves, prantas, pedras, águas,
ouçam a longa história de meus males
e curem sua dor com minha dor;
que grandes mágoas podem curar mágoas.
© Luís Vaz de Camões, 1595
De: Rimas
Editora: Almedina, Coimbra, 1994
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